segunda-feira, 27 de maio de 2013

Educação financeira pode virar matéria nas escolas


Congresso Nacional avalia inclusão da disciplina no currículo de matemática das redes pública e privada de ensino. Projeto está em tramitação desde 2009

Um projeto de lei tramita no Congresso Nacional para incluir oficialmente a educação financeira no currículo escolar nos ensinos fundamental e médio. O projeto propõe que o tema integre o currículo de matemática. Especialistas no assunto, no entanto, defendem que a educação financeira seja trabalhada de forma transversal incluída em diversas disciplinas. Em tramitação desde 2009, o Projeto de Lei, apresentado na Câmara dos Deputados, está na Comissão de Educação do Senado e aguarda para entrar na pauta.
Há também uma iniciativa do governo federal que, em 2010, publicou decreto instituindo a Estratégia Nacional de Educação Financeira (Enef). A partir da estratégica, foi implantado um projeto piloto em escolas públicas e os resultados foram avaliados de forma positiva em 2011. Um dos desdobramentos da experiência foi a instalação de um grupo de apoio pedagógico que, de acordo com o Ministério da Educação, discute a validação de materiais pedagógicos de educação financeira elaborados para os nove anos do ensino fundamental e também para o ensino médio.
Na rede privada de ensino, a educação financeira vem ganhando maior espaço porque as instituições têm mais flexibilidade no currículo. Um exemplo de dado sobre a implantação do tema é da consultoria Dsop Educação Financeira, que atende a mais de 500 escolas particulares em todo o país com a capacitação de professores e a distribuição de material didático. A consultoria também atende atualmente a rede municipal de educação de Goiânia, Franco da Rocha (SP), Vitória, Guarujá (SP) e Barueri (SP), com ações em diferentes estágios de implementação.
“As escolas privadas têm mais facilidade por não ter rede e há concorrência entre elas, então buscam oferecer atividades variadas. As escolas públicas têm redes muitas vezes extensas. Quando vamos para os estados, eles já têm a predisposição de ter educação financeira, mas nos municípios fica mais fácil, por ser uma rede menos extensa”, explica o educador e consultor da Dsop Reinaldo Domingos.
Alguns especialistas defendem que o conteúdo deve entrar no currículo escolar já a partir da educação infantil, outros acreditam que o melhor é começar no ensino fundamental.
Opinião dos especialistas e alunos
Para o economista Marcelo Alves, o ideal é que a disciplina não entre no currículo de forma isolada, mas que seja trabalhada de forma transversal, inserida no conteúdo de matérias como matemática, história, artes e física. 
“ As crianças e os jovens, em geral, precisam aprender a lidar com o dinheiro, para que mais tarde, quando adultos, possam evitar problemas financeiros. A educação financeira deve ser desenvolvida ao longo do aprendizado, para que se aprenda a aplicar e utilizar o dinheiro nas diferentes circunstâncias da vida”, explicou.
A orientação que os filhos recebem na escola pode fazer a diferença em casa. Reinaldo Domingos, educador da consultoria  Dsop Educação Financeira, afirma que a capacitação dos professores é outro elemento fundamental nesse processo. Em alguns casos, é preciso primeiro incorporar a educação financeira à vida dos professores, para que depois eles transmitam o conteúdo aos alunos. 
“O professor acaba assumindo para ele primeiro a educação financeira, para arrumar a vida e a da família dele, aí vai treinando pedagogicamente para colocar esses ensinamentos para as crianças de forma ordenada”, diz Domingos.

O estudante do quinto período do curso de Economia da  Universidade Federal Fluminense (UFF), Iann Quintanilha, acredita que é preciso incluir a disciplina na grade.
“Há defasagem no conhecimento sobre finanças do brasileiro. A falta de planejamento com gastos é recorrente, o que deixa evidente é o alto número de inadimplentes no setor de crédito”, acredita.
Incentivo para as crianças
Analisar as contas de energia de casa e elaborar um plano de redução de consumo e gastos para discutir com os pais são um exemplo de atividade proposta em livros de educação financeira usados nas escolas. A disciplina não faz parte do currículo oficial das instituições de ensino, mas vem ganhando espaço na rede privada de educação.
A intenção é que os pequenos se tornem adultos que saibam lidar com o dinheiro, planejar os gastos dentro do orçamento disponível, ficar longe de dívidas e ter reservas financeiras.
“O estímulo não é para que as crianças queiram ser ricas, mas para que elas saibam lidar com o dinheiro no seu dia a dia. Isso fará com que elas tenham menos problemas financeiros, logo terão menos estresse e assim terão mais qualidade de vida”, explica o autor de livros de educação infantil para o ensino médio e especialista no tema, Álvaro Modernell.
Para Modernell, o importante é que o conteúdo seja adequado à idade dos estudantes e trate de situações práticas da rotina das crianças e dos adolescentes para despertar o interesse e facilitar o aprendizado.
“A educação financeira infantil não deve trazer assuntos de adultos para as crianças. É preciso falar de dinheiro relacionado a brinquedo, passeio, lanche e aí introduzir fundamentos de educação financeira”, defende.
Os especialistas explicam que a educação financeira deve ter uma temática ampla e abordar também o consumo consciente e ambientalmente sustentável. São orientações para as crianças cuidarem, por exemplo, dos próprios brinquedos.

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