sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Porto que recebeu 1 milhão de escravos é declarado patrimônio pela Unesco

Porto Maravilha
O Cais do Valongo, um antigo porto do Rio de Janeiro que recebeu cerca de um milhão de escravos e que hoje é só um local de escavação arqueológica, foi reconhecido nesta quarta-feira pela Unesco como patrimônio da diáspora africana.
A Unesco destacou o local arqueológico como parte da chamada “Rota do Escravo”, um projeto lançado pelo órgão da ONU em 2006 para destacar o patrimônio material e imaterial relacionado ao tráfico de escravos no mundo, informou a Prefeitura do Rio de Janeiro.
“O projeto Rota do Escravo fixou (no Rio de Janeiro) pela primeira vez no mundo uma placa reconhecendo um local como patrimônio da memória da diáspora africana”, disse o chefe da Seção de Diálogo Intercultural da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Ali Moussa Ive, citado no comunicado.
“É um momento muito importante. Agrada-me muito o destaque que o Rio de Janeiro está dando a um dos mais importantes locais da memória da diáspora africana e do tráfico africanos escravizados”, afirmou Ive, diretor do Projeto Rota do Escravo e que liderou uma comissão da Unesco na visita Rio de Janeiro.
A decisão da Unesco foi simultânea a um ato promovido nesta quarta-feira pela Prefeitura de Rio de instalação de uma placa que concede ao Cais do Valongo o título de “patrimônio cultural” da cidade.
A data marca também a comemoração do Dia da Consciência Negra, feriado em alguns estados brasileiros que lembra o assassinato em 1695 de Zumbi dois Palmares, o negro que governou uma “república” de escravos livres no nordeste.
De acordo com o Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), vinculado à Prefeitura, tanto o reconhecimento da Unesco como o da Prefeitura reforçam a campanha do Rio de Janeiro para promover a candidatura do Cais do Valongo como Patrimônio Mundial da Humanidade, título declarado pela Unesco.
escravos
Segundo as autoridades brasileiras, o porto foi o que mais escravos africanos recebeu em toda a América
O Cais do Valongo, situado próximo ao atual porto do Rio de Janeiro e retratado em várias pinturas do francês Jean-Baptiste Debret, era o píer no qual eram desembarcados os escravos vindos da África, principalmente de Angola, Congo e Moçambique.
Segundo registros históricos, pelo local passaram entre 1790 e 1830 cerca de 706 mil escravos africanos, mas os historiadores consideram que o número pode chegar a um milhão se for levado em conta que operava desde muito antes.
O píer foi desativado em 1831, quando foram assinadas as primeiras leis que encaminharam a abolição da escravidão no país, e rebatizado em 1843 como Píer da Princesa por ter servido de local de desembarque de Tereza Cristina de Bourbon, a futura esposa de Pedro II, o segundo imperador do Brasil.
A área foi aterrada em 1911 para uma reforma urbanística e redescoberta em 2011, quando começaram as obras de remodelação do porto do Rio de Janeiro.
“O Rio de Janeiro tem muito orgulho de suas raízes e de nossos antepassados negros. Por isso queremos que o Cais do Valongo seja reconhecido como Patrimônio Mundial”, afirmou o presidente do IRPH, Washington Fajardo.
Segundo Milton Guran, representante do Brasil no Comitê Cientista do projeto Rota do Escravo da Unesco, ao longo de quase quatro séculos de escravidão o Rio de Janeiro recebeu quase 20% de todos os africanos escravizados que chegaram à América.
“Isso transforma o píer em uma referência da maior transferência forçada de população da história”, afirmou Guran, que espera que o local seja declarado Patrimônio da Humanidade até 2015, quando Rio de Janeiro completará 450 anos.

Fonte: Magéonline

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