terça-feira, 4 de dezembro de 2012


PMs presos no Rio recebiam propina de R$ 5 mil por plantão


A Polícia Federal cumpriu 65 mandados de prisão de PMs envolvidos em esquema com o tráfico no RJ. Foto: Murilo Rezende/Futura Press
A Polícia Federal cumpriu 65 mandados de prisão de PMs envolvidos em esquema com o tráfico no RJ
Foto: Murilo Rezende/Futura Press
Sessenta e três policiais militares e 11 traficantes foram presos até às 20h desta terça-feira em uma força tarefa formada pela Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública (Ssinte), pela Polícia Federal (PF), pela Coordenadoria de Inteligência da Polícia Militar (CI/PMERJ) e pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). De acordo com as investigações, eles recebiam de criminosos cerca de R$ 5 mil a cada plantão para não coibir atividades criminosas na favela Vai Quem Quer, em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro.
A operação, que mobilizou cerca de mil agentes, é resultado de um ano de investigações conjuntas e cumpre 83 mandados de prisão -- 65 contra policiais militares, de nove batalhões, e outros 18 contra civis. Entre os traficantes detidos, cinco já estavam presos no complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu.
"O policial militar tem que ter a certeza de que acabou. Nós não aceitamos mais ser humilhados por desvios de conduta", afirmou o comandante geral da Polícia Militar (PM), coronel Erir Ribeiro Costa Filho. Segundo ele, todos os 65 policiais acusados serão expulsos da PM em, no máximo, 30 dias. O secretário estadual de segurança, José Mariano Beltrame, elogiou a integração das policiais. Para ele, "não há instituição do serviço público capaz de mostrar legitimidade se não cortar da própria carne".
Os dois Grupos de Ação Tática - à época lotados no 15º BPM, de Duque de Caxias -, recebiam, em média, R$ 5 mil por plantão dos bandidos para não coibir atividades criminosas na favela Vai Quem Quer. O valor variava de acordo com a movimentação das bocas de fumo, mas os policiais extorquiam outras 12 favelas de Caxias dominadas pela facção Comando Vermelho. O Gaeco denunciou os acusados pelos crimes de formação de quadrilha armada, tráfico de drogas, associação para o tráfico, corrupção ativa, corrupção passiva e extorsão mediante sequestro. Também estão sendo cumpridos 112 mandados de busca e apreensão na casa dos denunciados e em batalhões da PM.
Comandante do batalhão é exonerado
A ação levou à exoneração do comandante do 15º BPM, tenente-coronel Cláudio Lucas Lima, e todo o seu estafe. Ele foi substituído na manhã desta terça-feira pelo tenente-coronel Maurício Faria da Silva.
O coronel Costa Filho confirmou que Lima foi destituído por não perceber a corrupção dentro do batalhão. "Pela quantidade de policiais envolvidos, não estava ocorrendo fiscalização para que não ocorresse esse fato. Se ele não procurou saber, errou", disse.
Segundo Ministério Público, o nome do ex-comandante é citado em algumas escutas, mas não há provas de que ele sabia ou estava envolvido no esquema.
Todos os 65 PMs denunciados são praças e 26 já tem a confrontação de padrão de voz, método que confirma a identidade da pessoa ouvida na escuta, confirmada. O efetivo total do batalhão é de 600 policiais.
O esquema
De acordo com a investigação, quando a propina não era paga em dia, os PMs sequestravam bandidos e seus familiares, apreendiam veículos do tráfico exigindo dinheiro para devolução e realizavam operações oficiais na favela. O principal alvo dos policiais era a favela Vai Quem Quer, mas eles agiam também nas comunidades Beira-Mar, Santuário, Santa Clara, Centenário, Parada Angélica, Jardim Gramacho, Jardim Primavera, Corte Oito, Vila Real, Vila Operário, Parque das Missões e Complexo da Mangueirinha. De acordo com investigações, os policiais militares não tinham um comando único e dividiam-se em 11 células autônomas.
No núcleo do tráfico, Carlos Braz Vitor da Silva, o Paizão ou Fiote, é considerado o chefe do Comando Vermelho nas favelas de Duque de Caxias e, segundo as investigações, mesmo preso na penitenciária Vicente Piragibe, no Complexo de Bangu, mantém frequentes contatos telefônicos com seus subordinados e continua dando ordens e recebendo informações detalhadas sobre a rotina do tráfico nas favelas, decidindo inclusive sobre os valores a serem pagos aos policiais.
A denúncia relata que um dos seus homens de confiança é Willian da Silva, conhecido como Cabeça, elo entre a quadrilha e os policiais militares da região. Ele era o responsável pelo pagamento das propinas e também pela negociação do resgate de homens do bando sequestrados por policiais, assim como a liberação dos carros apreendidos ilegalmente. A quadrilha de Fiote, além de manter parceria com o tráfico de drogas no Complexo do Lins, Parque União e Favela Nova Holanda, que também estão sendo alvo da operação Purificação, estendeu seus domínios para fora do Estado do Rio, estabelecendo relações com traficantes do Mato Grosso do Sul, de onde vem parte das drogas vendidas nas favelas de Duque de Caxias.

Fonte: PAULA BIANCHI
Direto de Rio de Janeiro

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