sábado, 1 de fevereiro de 2014

Novo chefe de Polícia Civil promoverá dança das cadeiras na segunda-feira


Fernando Veloso assume a Chefia de Policia fazendo uma dança das cadeiras na instituição
Foto: Fábio Guimarães em 16/02/2011 / O Globo
Fernando Veloso assume a Chefia de Policia fazendo uma dança das cadeiras na instituiçãoFÁBIO GUIMARÃES EM 16/02/2011 / O GLOBO

RIO - Na próxima segunda-feira, haverá uma dança das cadeiras nos cargos do alto escalão da Polícia Civil e nas delegacias. Apesar da opção do secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, em escolher um nome que já fazia parte da cúpula da instituição, o novo chefe de Polícia Civil, Fernando Veloso, de 48 anos, deve promover mudanças de imediato. Ele já está convidando alguns delegados neste sábado para formar sua equipe de confiança, principalmente subchefes para as áreas administrativa e operacional, além de diretores de especializadas.
Veloso vai empregar um estilo próprio, bem diferente de sua antecessora, a delegada Martha Rocha, que deixou o cargo para seguir carreira política pelo PSD. Por ser mais operacional, ele vai atuar na linha de frente em algumas operações, quando a agenda do cargo permitir. A ideia do secretário ao escolher o novo chefe de Polícia foi justamente a de dar uma demonstração de que realmente haverá uma mudança na polícia, mais ativa do que reativa.
As investigações nas áreas onde há Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), onde vêm ocorrendo uma série de tiroteios, principalmente na Rocinha, no Pavão-Pavãozinho e no Complexo do Alemão, também serão intensificadas. Ele chegou a comentar com amigos que está preocupado com os ataques as pacificadoras e vai mobilizar a categoria para que vista a camisa da instituição. “Não podemos perder o rumo”, confidenciou a um colega da corporação. Para ele, os alvos serão as UPPs, como já vem acontecendo. Ele também prevê manifestações motivadas pela Copa do Mundo e pelas eleições. Por isso, pretende se antecipar aos fatos. Uma reestruturação da Coordenadoria de Informações e Inteligência Policiais (Cinpol) será crucial para o planejamento.
Segundo fontes da Polícia Civil, Veloso vai levar as questões mais polêmicas para discutir com sua equipe. Na verdade, não se tem certeza ainda se projetos iniciados por Martha Rocha vão realmente sair do papel, pois sua linha é justamente de avaliar a viabilidade deles, priorizando as necessidades da instituição. Antes de sair, Martha anunciou dois projetos: a criação de uma Delegacia da Pessoa Desaparecida (DPD) e o programa Entrevista Investigativa, no qual uma criança vítima de violência será abordada por uma equipe de psicólogos da polícia para apurar se houve realmente o crime.
Na polícia desde 2001, Veloso foi trabalhar na 30ª DP (Marechal Hermes). Em seguida, foi para a 12ª DP (Copacabana), 9ª DP (Catete), Delegacia Especial de Atendimento ao Turismo (Deat), 7ª DP (Santa Teresa), 14ª DP (Leblon) e Delegacia de Repressão Contra Crimes de Propriedade Imaterial (DRCPIM). Formado em Direito pela Universidade Estácio de Sá, em 1997, fez pós-graduação em Direito Público (2007) e cursos como o de Gerenciamento Avançado de Segurança, no Departamento de Segurança e Narcóticos dos Estados Unidos. Em 2010, como titular da 14ª DP (Leblon), desarticulou uma quadrilha traficantes que agia na Cruzada São Sebastião, considerada o segundo maior ponto de venda de drogas da Zona Sul.
Até sexta-feira, o delegado Cláudio Feraz, de 52 anos, era o preferido de Beltrame, apesar de o Ministério Público Federal (MPF) ter pedido informações à Superintendência da Receita Federal para apurar a evolução patrimonial do delegado nos últimos quatro anos. Nesta quinta-feira, Ferraz chegou a passar a manhã na sede da secretaria de Segurança, no prédio da Central do Brasil, apresentando ao secretário e sua equipe documentos que comprovariam que não teria enriquecido ilicitamente. Tudo foi para análise do setor jurídico da secretaria.
À tarde, foi a vez de o delegado levar as cópias do mesmo material para o Ministério Público estadual, uma vez que o MPF declinou a competência da investigação para o órgão do estado. Aos amigos, Ferraz chegou a dizer que estava mais preocupado em provar sua inocência e que, caso fosse sondado pelo secretário, achava que não deveria aceitar o cargo, pois perderia tempo tentando se explicar à Receita Federal e à Justiça como adquiriu seis imóveis entre 2009 e 2012, sendo dois deles em nome da mulher, com quem é casado em regime de comunhão de bens.
Até 2010, Ferraz ficou à frente da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco-IE), onde prendeu cerca de 700 milicianos. O dossiê contra Ferraz surgiu justamente às vésperas de o secretário de Segurança anunciar o seu nome como chefe de Polícia Civil, tendo sido produzido no fim do ano passado. O relatório tem 87 páginas e contém fotos dos imóveis que pertenceriam a ele, inclusive uma fazenda e um terreno no Recreio dos Bandeirantes, numa área que foi da milícia da região. O material teria sido produzido por um grupo de policiais, contrário ao de Ferraz. O procurador da República Orlando Cunha, ao receber os documentos, solicitou à Receita Federal que analise se há uma “possível situação caracterizadora de redução ou supressão do tributo federal”. Ele também enviou ofícios à Corregedoria Geral Unificada (CGU), Corregedoria Interna da Polícia Civil e ao Procurador-geral de Justiça, Marfan Vieira, que abrissem uma investigação sobre o caso.
A fama de Ferraz no combate as milícias fez com que o prefeito Eduardo Paes o escolhesse, no ano passado, para ser o “xerife das vans”. Ele é o coordenador especial de Transporte Alternativo, da prefeitura, para organizar o transporte alternativo no município, principalmente em áreas de milícias. Com as denúncias contra o delegado, nesta quinta-feira, Paes também determinou que a corregedora-geral da prefeitura, Alda Cavaliere, também abrisse uma sindicância contra ele. Caso seja comprovado o crime de enriquecimento ilícito, ele pode ser afastado do cargou ou até exonerado.

Fonte: O Globo

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