segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Chuvas podem provocar tragédias mesmo que
 não caia um volume grande de água

Chuvas podem provocar tragédias mesmo que não caia um volume grande de água



PRosa junto à encosta que deslizou há 2 anos e fica colada à casa: “Não posso abandonar meu patrimônio”O GLOBO / RAFAEL MORAES

PRosa junto à encosta que deslizou há 2 anos e fica colada à casa: “Não posso abandonar meu patrimônio”
Foto: O Globo / Rafael MoraesRIO- O risco de chuvas de verão provocarem tragédias no Rio existe mesmo sem que haja precipitações acima da média histórica em vários pontos do interior do estado e da Região Metropolitana. É o que mostra um levantamento do Serviço Geológico do Estado, autarquia ligada à Secretaria estadual do Ambiente, concluído há pouco mais de um mês. O estudo aponta riscos de deslizamentos em 67 dos 92 municípios do Rio. Nesses lugares, a combinação de temporais com dias de chuva de menor volume, porém constante, pode desestabilizar as encostas. Em apenas 49 deles, estão sob perigo iminente mais de 36 mil pessoas ou 11.849 imóveis. A situação é mais crítica em Petrópolis, Teresópolis, Nova Friburgo, Angra dos Reis e Niterói, cada cidade com mais de 200 pontos de risco.
Na Região Serrana, além de Angra e Niterói, o estudo indica que já há risco quando são registradas chuvas intensas (acima de 50 milímetros por hora) ou precipitações acima de 120 milímetros diários. A explicação para que essas chuvas mais fracas causem problemas, de acordo com o levantamento, é que há grande número de construções perto de encostas com histórico de deslizamentos.
Em todo o estado, porém, a quantidade de moradores em perigo pode ser ainda maior, já que os dados não levam em conta a capital (cujo gerenciamento de riscos é de responsabilidade da Geo-Rio) e cidades que, por tradicionalmente não terem problemas com encostas, como a maioria das localizadas na Região dos Lagos, não tiveram seus mapas elaborados. Além disso, em 18 municípios — incluindo Niterói e Nova Friburgo —, as áreas de risco foram identificadas, mas os dados sobre a população e as casas ameaçadas ainda não estão disponíveis.
Em Duque de Caxias, onde na quinta-feira passada uma enxurrada deixou cerca de mil desalojados e desabrigados no distrito de Xerém, os problemas foram causados mais pelas enchentes decorrentes de uma cabeça d’água do que por deslizamentos. Mas as encostas também preocupam: no município, foram mapeados 98 pontos de risco, onde vivem 2.680 pessoas. Também há perigo em Magé, Mangaratiba, Rio Claro, Barra Mansa, Piraí e Sumidouro. Outra cidade com um quadro preocupante é São Gonçalo: o levantamento mostrou que 1.752 pessoas moram próximo a encostas sujeitas a deslizamento.
Em alguns casos, o número de áreas sob risco nem é tão significativo. Mas o número de pessoas em perigo é grande devido à grande ocupação de pontos críticos. Em Cachoeiras de Macacu, por exemplo, foram identificados 74 áreas de risco, com 2.028 moradores. Somente no Condomínio das Pedrinhas, no bairro do Rasgo, são 120 pessoas sob perigo. Já Itaguaí tem apenas 17 pontos mapeados, mas nesses lugares há 1.158 habitantes. Desse total, 236 vivem numa única localidade, Itimirim.
Objetivo é orientar ações da Defesa Civil
Os estudos de risco começaram a ser feitos pelo Serviço Geológico do Estado em 2010 e vêm sendo atualizados ano a ano, com a inclusão de mais cidades. Segundo o órgão, em alguns casos, os moradores podem ter sido removidos após a conclusão dos levantamentos. Mas o quadro constatado é o que serve de orientação para o estado planejar as ações de Defesa Civil. Na avaliação do órgão, nas áreas identificadas, os agentes dos municípios não teriam tempo sequer para evacuar os moradores em caso de deslizamentos.
Para o presidente do Serviço Geológico do Estado, Flávio Erthal, a curto prazo, esse mapeamento ajudará as prefeituras a se planejarem para evitar que as chuvas de verão deixem vítimas. E, a longo prazo, contribuirá para a formulação de estratégias de reassentamento, embora em algumas regiões isso seja bastante difícil. É o caso de Nova Friburgo, uma das cidades mais atingidas pelos temporais do verão de 2011 e que tem boa parte de seu território tomada por encostas.
— Nós sobrevoamos todas essas áreas para mapear os pontos de risco iminente. A situação de fato é preocupante. Mas é um problema que não começou hoje, e sim há 60 anos, com a migração de boa parte da população do campo para as cidades, ocupando áreas sem o planejamento prévio adequado — explicou Erthtal.
Em entrevista ao “Globo Comunidade” exibido ontem pela TV Globo, o secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, observou que, mesmo com os mapeamentos de risco estando disponíveis, os municípios nem sempre se preocupam em estudá-los antes de autorizar novas construções.
— O esforço agora é para corrigir as ocupações desordenadas — disse Minc.
O alerta do Serviço Geológico do Estado é reforçado por outro documento concluído pelo órgão, no dia 18 de dezembro, após análise de deslizamentos ocorridos em novembro de 2012, mesmo como o volume de chuvas não tendo ultrapassado a média dos anos anteriores. Em Nova Friburgo, por exemplo, houve um deslizamento no bairro Três Irmãos em 13 de novembro, quando as chuvas praticamente já tinham parado. Na ocasião, 13 casas foram destruídas (12 delas já estavam interditadas desde a tragédia de janeiro de 2011) e duas pessoas ficaram feridas. Segundo o estudo, o quadro é grave também em cidades pequenas e médias, como Trajano de Moraes e Santa Maria Madalena.
No rio, 117 pontos foram mapeados
Na cidade do Rio, um mapeamento da Geo-Rio, de 2010, identificou 117 pontos de risco nas encostas da região do Maciço da Tijuca. Ao todo, o estudo apontava áreas com alto perigo de deslizamento em 95 comunidades, como o Morro da Chacrinha, na Tijuca. Nessas áreas, segundo o levantamento, havia 18 mil domicílios.
Para retirada da população dos pontos de risco, o prefeito Eduardo Paes anunciou, em 1º de janeiro do ano passado, que seriam investidos R$ 350 milhões. A verba viria do Programa de Aceleração do Crescimento 2 (Encostas), do governo federal. Apesar das promessas, no Morro dos Prazeres, mostrou O GLOBO na última quinta-feira, famílias ainda viviam em casas interditadas após as enxurradas de março e abril de 2010, que deixaram 36 mortos na comunidade. Alguns imóveis eram alugados mesmo depois de os donos terem sido indenizados para desocupá-los. E os inquilinos pagavam a moradia com recursos do aluguel social da prefeitura.
Na primeira edição do PAC — Encostas, o Rio recebeu, segundo a Geo-Rio, R$ 72 milhões em investimentos. Foram feitas obras no Parque Nacional da Tijuca e em 11 outros bairros: Praça Seca, Rio Comprido, Complexo do Alemão, Vaz Lobo, Madureira, Santa Tereza, Cavalcante, Barra de Guaratiba, Ilha do Governador, Realengo e Água Santa.


Fonte globo.com



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