Paródias de hits recentes e antigos do funk fazem sucesso na sala de aula. Professores do Rio de Janeiro contam como o ritmo foi parar na educação.
Os alunos do professor Silvio Predis, de 37 anos, não usam só o caderno
e caneta para memorizar o conteúdo das suas aulas de química no Rio de
Janeiro. As mãos batucando na carteira ao ritmo de funk com letras
adaptadas também ajudam a reter a matéria. Predis, que dá aulas no
cursinho Miguel Couto e no Colégio Santo Agostinho, afirma que começou a
compor paródias de funk para motivar os estudantes a não desistirem da
preparação para o vestibular (assista acima).
"Existe um desgaste emocional que acontece ao longo da preparação para o
vestibular. A música vem em um momento para quebrar esse estresse. Numa
hora dessa você consegue arrancar um sorriso que não conseguiria [de
outra forma], de um aluno que pode estar bastante angustiado. Ela faz o
aluno receber a química de peito mais aberto", explicou Predis.
O professor de química levou o funk para a sala de aula há mais de dez
anos e ganhou fama no Rio de Janeiro, em outros estados e até fora do
país por causa disso. Segundo ele, os alunos começaram a gravar as
"aulas-show" e, nos últimos anos, elas foram parar nas redes sociais. Em
janeiro, ele foi convidado para dar uma aula em uma escola em Alagoas.
Silvio Predis, professor de química do Rio, ficou famoso por suas aulas com paródias de funk
(Foto: Arquivo pessoal/Silvio Predis)
(Foto: Arquivo pessoal/Silvio Predis)
Vira e mexe Predis volta a "viralizar" na web com suas aulas. No dia 30
de junho, um usuário do Facebook publicou um de seus vídeos,
reclamando, na descrição, que seus professores nunca deram aula desse
tipo na sua escola. Em menos de um mês, foram mais de 12 mil
compartilhamentos. No YouTube, porém, dezenas de vídeos com as aulas de
Predis já renderem mais de 1,5 milhão de visualizações. Em um deles,
Silvio canta a música sobre equilíbrio químico e até usa figurino para
ajudar a animar os alunos.
O vídeo foi publicado por Paola Pugian,
de 21 anos, em 2011. "A minha intenção era divulgar para os amigos de
turma poderem estudar. Eu sentava na frente e conseguia filmar
direitinho as aulas", explicou ela ao G1. Hoje, Paola
estuda farmácia na Universidade Federal Fluminense (UFF), e diz que já
pensava em seguir a carreira, mas as aulas de química do professor
Silvio "ajudaram um pouco mais" para que ela optasse pela profissão.
"Adorava as aulas dele. As músicas eram somente uma parte das aulas.
Excelente professor", disse ela.
Inspiração no trânsito
Predis conta que não tem formação em música e não sabe tocar instrumentos. A ideia de usar o funk apareceu por acaso.
Predis conta que não tem formação em música e não sabe tocar instrumentos. A ideia de usar o funk apareceu por acaso.
"Como você fica dando aula o dia inteiro, quando sai de uma aula o
conteúdo fica martelando na cabeça. Liguei um som, com aquilo na cabeça
girando, aí fui bolando e saiu o começo da música. Cheguei em casa,
terminei a música e saiu."
Além do ritmo, ele diz que a batida do funk é fácil de aprender e que
isso ajuda na interação dos alunos. Depois da primeira apresentação, ele
diz que os alunos gostaram tanto que ele acabou compondo paródias para
mais de dez músicas.
Mas Predis explica que memorizar uma música não significa aprender a
matéria, e que as paródias são apenas uma pequena parte da sua
metodologia de ensino. "As músicas sempre acontecem como fechamento de
um grande tema. A música é um fechamento, uma bonificação para aquele
que prestou bastante atenção, participou."
'Beijinho no ombro' dos concorrentes na Uerj
O funk também entrou na tradicional paródia pré-prova que os professores do Curso e Colégio De A a Z, também no Rio, elaboram especialmente para seus alunos. No ano passado, quem inspirou uma das montagens foi a cantora Anitta. Neste ano, o 'Beijinho no ombro' de Valesca se transformou no 'Azinho na Uerj' em uma superprodução do cursinho publicada no início de junho no canal do colégio no YouTube (assista ao vídeo acima), na véspera do primeiro exame de qualificação da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
O funk também entrou na tradicional paródia pré-prova que os professores do Curso e Colégio De A a Z, também no Rio, elaboram especialmente para seus alunos. No ano passado, quem inspirou uma das montagens foi a cantora Anitta. Neste ano, o 'Beijinho no ombro' de Valesca se transformou no 'Azinho na Uerj' em uma superprodução do cursinho publicada no início de junho no canal do colégio no YouTube (assista ao vídeo acima), na véspera do primeiro exame de qualificação da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
"O que a gente faz que é uma coisa nossa, uma tradição, é fazer esses
vídeos mais motivacionais", explicou Fellipe Rossi, professor de
matemática e vice-diretor acadêmico do colégio. Ele também se vestiu de
Valesca e protagonizou o vídeo, que foi gravado no Castelo de Itaipava,
mesmo local da gravação do vídeo original que rapidamente viralizou na
web. "Na véspera das principais provas aqui no Rio a gente sempre faz
esses vídeos. É para os alunos que estão mais cansados, mais nervosos,
conseguirem dar uma relaxada."
Segundo Fellipe, o trabalho é coletivo: a produtora de vídeos do
colégio se ocupa da filmagem e edição, e os professores dividem as
tarefas de elaboração das letras e do figurino.
Antes de publicarem o vídeo na web, os professores também passam o
resultado final na sala de aula. "Quando termina de passar, a reação dos
alunos é inexplicável. Uns choram, uns riem, uns choram de rir", diz o
professor de matemática.
O funk no vídeo não explica nenhum conteúdo que cai nas questões do
vestibular, mas estimula os jovens vestibulandos a acreditarem que o
esforço na preparação antes das provas vai valer a pena no final. "Eles
percebem como a gente se esforçou, se superou para fazer isso tudo. E a
mensagem é exatamente essa: a gente é capaz de tudo para tentar fazer os
alunos se prepararem melhor, relaxarem, porque eles são capazes de
coisas que nem imaginam."
Fonte: g1
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