O comando da UPP Batan abriu uma averiguação sumária para apurar as circunstâncias da ocorrência
Luiz Claudio Andrade Baltazar, de 17
anos, acabara de encerrar o expediente como entregador de pizza, na
madrugada do último sábado, por volta de 2h, quando foi lançado a metros
de distância depois de uma batida com uma viatura da PM na esquina
entre a Rua Itajaí e a Avenida Brasil, em Realengo, Zona Oeste do Rio,
mais precisamente na comunidade do Batan, que conta com uma Unidade de
Polícia Pacificadora (UPP). As circunstâncias da morte do adolescente
tem versões conflitantes entre o o relato da família, o que os PMs
envolvidos disseram na delegacia e a nota enviada pela Coordenadoria de
Polícia Pacificadora (CPP).
Segundo parentes de Luiz, que teve a
morte cerebral decretada no Hospital estadual Albert Schweitzer pouco
mais de 24 horas após o acidente, o jovem parou sua moto ao lado de uma
praça ao avistar o carro da PM se aproximando. Mesmo assim, ele teria
sido atingido em cheio pelo veículo dos policiais, que ficou com a parte
dianteira totalmente danificada.
Ele deixou o baú da moto em casa depois
do trabalho e foi encontrar uns amigos. No caminho, uma viatura só com o
giroscópio aceso passou por ele e por outros dois colegas, que estavam
numa segunda moto. De repente, o carro deu meia-volta e voltou na toda
na direção dos meninos, todo apagado. Meu sobrinho ainda parou, mas não
teve chance, diz Paula Cristina Pestana, de 37 anos, tia de Luiz.
No entanto, a versão que os policiais
militares apresentaram na 33ª DP (Realengo), onde o caso foi registrado
como lesão corporal culposa (quando não há intenção), é bem diferente.
De acordo com a Polícia Civil, os agentes relataram que o próprio
adolescente bateu na viatura, enquanto tentava escapar da perseguição de
uma outra. Mesmo no hospital, onde deu entrada com traumatismo
craniano, Luiz chegou a ser autuado por dirigir sem habilitação.
A CPP, por sua vez, fornece uma terceira
versão sobre o ocorrido, que desmente o próprio relato dos PMs na
delegacia. O órgão informou que o adolescente acelerou numa tentativa de
fuga ao perceber a aproximação de uma viatura. Após perder o controle
ao passar por um quebra-molas, o carro teria atingido uma árvore, e o
impacto causou o desmaio dos policiais. Ainda segundo a coordenadoria,
“os PMs não sabem explicar como o motociclista caiu”.
Os parentes de Luiz reclamam também de
uma suposta demora no socorro à vítima, que teria levado mais de duas
horas para ser concluído. Testemunhas contam ainda que um dos policiais
ameaçou plantar uma arma junto ao corpo do adolescente. O PM só teria
desistido da ação após ser flagrado por testemunhas, que começaram a
filmar o local do acidente e a movimentação dos agentes.
Ele pegou a arma debaixo do banco da
viatura, mas todo mundo começou a gritar que estava vendo o que ele
queria fazer. O pessoal sacou um monte de celular, e um outro PM ainda
disse: “Quem tirar foto ou filmar, depois vamos pegar”, garante Paula.
Luiz era o mais velho de cinco irmãos.
Para auxiliar a mãe, que é viúva, ele interrompeu os estudos no início
deste ano. Durante o dia, o rapaz entregava quentinhas pelo bairro. À
noite, trabalhava na pizzaria, cujo dono é proprietário da moto que ele
guiava no momento do acidente. Parentes e amigos estão convocando uma
manifestação para a próxima sexta-feira, quando caminharão da casa da
família até a sede da UPP para protestar contra a morte do adolescente.
O enterro só poderá ser feito na próxima
quarta-feira. Como minha irmã autorizou a doação dos órgãos, é preciso
esperar alguns exames, para encontrar receptores compatíveis. Estamos
sofrendo muito, desabafa Paula.
Coordenadoria de Polícia Pacificadora
“Segundo a comandante da UPP Batan,
capitão Joyce Leite, uma equipe policial da Unidade de Polícia
Pacificadora (UPP) Batan, em Realengo, estava baseada na entrada da
comunidade (Rua Itajaí, esquina com a Avenida Brasil), pouco depois das
2h do último sábado (1/11), quando viu duas motos com os faróis apagados
e com os ocupantes sem equipamentos de segurança (uma com dois
ocupantes e outra apenas com o piloto) trafegando na contramão da
Avenida Brasil. Os policiais pegaram a viatura, ligaram a sirene e o
giroflex e tentaram abordar as motocicletas. A moto que estava com os
dois ocupantes parou, enquanto o motociclista da segunda acelerou. Os
agentes desconsideraram a que parou e foram atrás da que fugiu. Próximo
ao Posto 200, na altura do número 127 da Rua Itajaí, a viatura perdeu o
controle em um quebra-mola e se chocou contra uma árvore.
Os policiais desmaiaram com o impacto da
batida e foram socorridos por policiais em uma outra viatura que chegou
logo depois ao local. Os PMs não sabem explicar como o motociclista
caiu. Os dois soldados que estavam na viatura policial foram socorridos
pela outra equipe que chegou na sequência, enquanto uma ambulância do
Samu foi acionado pelo serviço 193 para socorrer o adolescente. Todos
foram levados para o Hospital Estadual Albert Schweitzer, em Realengo.
O comando da UPP Batan abriu uma
averiguação sumária para apurar as circunstâncias da ocorrência e as
devidas responsabilidades. A supervisão da UPP conversou com a mãe da
vítima no hospital e se colocou à disposição da mesma para o que ela
precisasse. A ocorrência foi registrada na 33ª DP (Realengo), que apura
os fatos.”
Polícia Civil
“De acordo com informações da 33ª DP
(Realengo), o caso foi registrado como lesão corporal culposa. Segundo
os policiais militares, que socorreram o rapaz, ele bateu em uma viatura
quando fugia de outra. O menor foi autuado por dirigir sem habilitação e
foi encaminhado para o hospital. Foi realizada perícia no local e
familiares e testemunhas estão sendo chamados para prestar depoimento.
As investigações estão em andamento.”
Secretaria estadual de Saúde
“A direção do Hospital estadual Albert
Schweitzer informa que o paciente Luiz Claudio Andrade Baltazar deu
entrada na unidade neste sábado (01) com traumatismo craniano. O
paciente foi internado em leito de terapia intensiva, onde, após exames,
foi confirmada a morte cerebral neste domingo (2).”
Nenhum comentário:
Postar um comentário