Renata Ribeiro, de 36 anos, lembra-se, como se fosse ontem, da terça-feira, 6 de abril de 2010, quando uma encosta do Morro dos Prazeres, em Santa Teresa, desabou, matando 34 pessoas. Os olhos percorrem a ribanceira, hoje já com alguma vegetação, e o terror daquela manhã fica estampado em seu rosto. A recepcionista conhece na prática o que é a tal vulnerabilidade ambiental, tema de um estudo divulgado nesta quinta-feira pela Fiocruz. A pesquisa revela que 42 municípios do estado apresentam índice de vulnerabilidade acima de 0,50, que é a média estadual.
Essa taxa, que analisa fatores sociais, ambientais e de saúde, classifica as cidades quanto ao grau de atenção que terá que ser dado frente às mudanças climáticas previstas para os próximos 30 anos. Para o cenário mais pessimista, ou seja, com maiores emissões de gases do efeito estufa, os municípios da Região Metropolitana e o seu entorno foram identificados como os mais suscetíveis a sofrerem os impactos do clima.
— Em relação aos demais municípios do estado, a população do Rio está entre as mais vulneráveis. Isso acontece em face aos índices de saúde e do ambiente. A cidade de Niterói apresenta o menor índice de vulnerabilidade social. No entanto, o índice geral é elevado em face a maior vulnerabilidade da saúde e do ambiente — explica a coordenadora do projeto e pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Martha Barata.
Segundo ela, dados mostram que vem aumentando a ocorrência de catástrofes naturais, como chuvas intensas que resultam em inundações e desabamentos, além de problemas de saúde, como o avanço da dengue e da leptospirose, bem como o número de mortes relacionadas a esses eventos extremos.
Aumenta a ocupação nas encostas
O paisagista Luís Sérgio da Silva, de 56 anos, e outras 19 pessoas moram num prédio construído nos anos 30 sobre uma pedra, na encosta do Morro dos Prazeres. Sob a sua varanda, a ribanceira. Ele, que ajudou a resgatar vítimas do desabamento que aconteceu ali em 2010, diz que o medo passou:
— Naquele dia, dormi perto da porta da rua, para fugir mais rápido. Depois, você vai acostumando. O prédio é firme, atestado por um engenheiro.
O que se vê ao redor da construção, no entanto, são casas frágeis, seguindo uma tendência observada pelo estudo da Fiocruz: o aumento do número de habitações erguidas nas encostas.
— Isso vem acontecendo muito, principalmente na Região Serrana, elevando o índice de vulnerabilidade em cidades como Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo — ressalta Martha Barata.
Saiba mais sobre o Índice de Vulnerabilidade Geral (IVG)
A composição do Índice de Vulnerabilidade Geral considera setores suscetíveis aos impactos das mudanças climáticas, avaliando aspectos ambientals, sociais e de saúde.
No Índice de Vulnerabilidade de Saúde, foram analisados dados de dengue, leptospirose, leishmaniose tegumentar e mortalidade de crianças menores de 5 anos por diarreia.
No Índice de Vulnerabilidade Social, foram avaliadas educação, estrutura familiar, renda e infraestrutura, para medir a capacidade de resposta frente a catástrofes.
No Índice de Vulnerabilidade Ambiental, foram analisados os setores suscetíveis à mudança do clima, a exemplo da cobertura vegetal e respectiva diversidade biológica, que apresentam relação com a saúde e propiciam serviços ambientais que beneficiam a população, contribuindo para o seu bem-estar e, em última instância, sua saúde.
Leia mais: http://extra.globo.com/noticias/rio/estudo-da-fiocruz-aponta-42-cidades-do-estado-mais-vulneraveis-aos-eventos-meteorologicos-9438796.html#ixzz2bUx68rHE
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