Bando invade comunidade e exige a saída de seis militares e um policial civil
Rio - Armados para defender a sociedade, mas
sem o apoio do estado para garantir a segurança de suas famílias,
policiais ficaram vulneráveis diante de bandidos do Comando Vermelho
(CV). No sábado, pelo menos 30 traficantes portando fuzis e granadas
expulsaram seis PMs e um policial civil de suas casas, que precisaram
sair às pressas da comunidade Parque Cristóvão Colombo, em Parada
Angélica, Duque de Caxias. Segundo os agentes, seus nomes figuravam numa
lista feita pelos bandidos de pessoas marcadas para morrer na região.
“Saímos só com a roupa do corpo. Desde então,
dormimos na casa de amigos e parentes, que abrem espaço para nós até
conseguirmos alugar um imóvel. Minha mulher está com a pressão alta, e a
minha filha, desesperada. Como PM, me sinto ‘um nada’. Estamos de mãos
atadas. Será que o governo vai se mobilizar para ajudar alguns
policiais?”, indaga uma das vítimas, nascida e criada no Parque
Cristóvão Colombo.
A invasão — supostamente comandada pelo
traficante conhecido como Zidane — foi feita porque o bando queria
estender a venda de drogas de favelas vizinhas para o local. Os bandidos
chegaram à comunidade por volta das 19h, dando ordens: “Se tiver
polícia (sic) ou ‘alemão’ (apelido dado a rivais), vai morrer”. Segundo
as vítimas, até moradores que eram seus amigos foram ameaçados.
Até o dia da invasão, o lugar era
bucólico e nunca havia sido alvo de traficantes, segundo os PMs. “As
crianças brincavam nas ruas e todos se conheciam. É desesperador não ter
para onde ir e muito triste ver as minhas filhas pequenas
traumatizadas. Elas não podem nem ouvir barulhos de fogos que acham que o
tiroteio recomeçou”, contou outro policial, que conversava com um amigo
na rua e, ao perceber a invasão, foi levado para fora da comunidade
pelo conhecido numa moto. A agonia deles foi registrada na 62ª DP
(Imbariê).
A ajuda oferecida até agora pela PM foi o
reforço de policiamento no local e apoio para que os policiais hoje ‘sem
teto’ buscassem documentos e roupas. Os móveis e objetos continuam nas
casas, construídas com uma vida inteira de sacrifícios e economias.
“Minha vida inteira está ali, onde nasci. Não sei o que vai ser daqui
para frente”, desabafou um PM.
Policiais do 15º BPM (Caxias) fizeram operação
após a invasão, e houve intenso confronto, mas não conseguiram expulsar
os traficantes, que se refugiaram na mata que cerca a região. O coronel
Oliveira, que está à frente do 3º Comando de Policiamento de Área (CPA)
da Baixada, disse que hoje haverá blindados no local.
Falta de combustível aumenta a crise na Polícia Militar
A ordem de racionamento de combustível do
Estado-Maior da PM para os policiais reforçou a crise na corporação. Sem
receber a cesta de Natal de R$ 100, autorizada ontem no Diário Oficial,
mas ainda não depositada na conta, os militares agora não podem nem
usar o ar-condicionado dos carros.
Vídeo: PMs recebem ordem para manter viaturas desligadas
A ordem é desligar o motor e
giroscópio das viaturas baseadas nas ruas. Ontem houve fila de viaturas
para colocar gasolina no Batalhão de Choque. Nos bastidores comenta-se
que, para garantir que a Petrobras mantivesse o fornecimento, o estado
pagou R$ 39 milhões. A empresa negou o desabastecimento. Em um das notas
oficiais, a PM informou que iria apurar as razões da interrupção.
Em outra se limitou a explicar que
houve falha no abastecimento por problemas operacionais na logística de
distribuição da fornecedora. E admitiu apenas que cinco unidades haviam
sido afetadas. Porém, nas ruas, a reclamação dos policiais era geral. Em
Higienópolis, uma viatura abastecia em um posto de gasolina comercial.
Para racionar o combustível, a PM
estuda a retirada de aparelhos de ar-condicionado dos veículos. A
informação causou revolta em muitos policiais. Aqueles flagrados com as
viaturas ligadas serão punidos. “Isso acaba com a gente nesse calor de
40 graus. Ainda tem o fardamento e colete balístico. Hoje tentamos
abastecer a viatura e não tinha combustível”, revelou um policial, que
pediu para não ser identificado, do 5º BPM (Praça da Harmonia).
Em meio a tantos problemas, os
policiais ficaram alarmados com a especulação de que não haveria
kit-lanches para os policiais que vão trabalhar no Réveillon. Em nota, a
Diretoria de Logística da corporação informou que os alimentos e kits
já estão nas unidades para serem distribuídos.
Varredura para receber a ‘mini-UPP’
Policiais do Batalhão de Operações Especiais
(Bope) e Choque fizeram ontem uma varredura no Morro do Banco, no
Itanhangá. A operação é para preparar o terreno da instalação de uma
‘mini-UPP’, como o ‘Informe do Dia’ publicou nesta terça com
exclusividade. A ‘mini-UPP’, segundo o governador Luiz Fernando Pezão, é
um conceito novo de Unidade de Polícia Pacificadora para áreas menores e
será implantada a partir de sexta-feira.
Uma das UPPs mais bem-sucedidas, a do
Morro Dona Marta, em Botafogo, vai continuar com o capitão Márcio Rocha
à frente da unidade. A permanência do oficial foi uma vitória dos
moradores. Segunda-feira, houve uma reunião do secretário de Segurança
Pública, José Mariano Beltrame, com representantes da comunidade. Eles
pediram para que Rocha fosse mantido por causa dos projetos sociais que
ele apoia na região. Sensibilizado com a mobilização da população,
Beltrame anunciou que Rocha será mantido por mais seis meses, mas
lembrou que precisa da boa atuação do militar em outra comunidade.
Fonte: O Diaq
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