Na subida da Serra, olhares de muitas pessoas se perdem na imensidão verde que delineia a estrada. Para quem é sedentário — como a repórter que assina este texto — e acha que jamais conseguirá se aventurar num roteiro de turismo ecológico que passa longe dos museus e das igrejas que marcam a trajetória da Família Real no Brasil, fica a dica: dá para se divertir, sim, fazendo pouco esforço.
Na região, um dos roteiros mais procurados pelos adeptos de trilhas é o Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Aberto em 1939, é protegido pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e tem 20.024 hectares cortando os municípios de Teresópolis, Petrópolis, Magé e Guapimirim. O parque conta com a maior rede de trilhas do Brasil: são 130 quilômetros, incluindo subidas e descidas às margens de cachoeiras. A descrição já tira o fôlego, ainda assim a equipe do GLOBO-Serra topou percorrer um desses caminhos e conheceu o chamado Circuito Bonfim.
Foram quatro horas Serra dos Órgãos acima, com um mar de verde que emoldurou os 3,5 quilômetros de subida. A paisagem arrancou suspiros ao longo do percurso, no qual pouquíssimas gotas de suor escorreram. A equipe do GLOBO-Serra percorreu o trajeto — sete quilômetros no total — a bordo de um confortável jipe.
O paraíso ecológico e ainda pouco explorado da Cidade Imperial está à disposição para todos os tipos de aventureiros, sejam adeptos de atividades físicas pesadas ou os que evitam esforço. Duas empresas oferecem programas de ecoturismo na região. Ambas têm a opção de percorrer os roteiros a bordo de veículos com tração 4x4. Para quem gosta de se embrenhar no mato, guias fazem paradas estratégicas, nas quais os visitantes do parque podem descer dos jipes. Para se refrescar em alguma das várias cachoeiras, é necessário caminhar, mas os trechos difíceis do circuito são feitos no conforto dos veículos.
Acostumado desde pequeno a acompanhar o pai montanhas acima, Jerônimo Pinheiro, operador de turismo e fundador da Jeep EcoTour, conhece bem os roteiros ecológicos da Região Serrana. Ele conta que, atualmente, o circuito mais procurado é a travessia de 30 quilômetros entre Petrópolis e Teresópolis — que, se for feita a pé pela parte alta da Serra dos Órgãos, dura cinco dias.
— O passeio de jipe tem como objetivo atrair um público que quer conhecer cachoeiras, que deseja um contato maior com a natureza, mas não tem condicionamento físico para longas caminhadas. Num primeiro momento, criei apenas roteiros curtos perto do Centro Histórico de Petrópolis. Hoje, estou desenvolvendo um que ligará Petrópolis a Teresópolis passando por Brejal ou pelo Vale do Cuiabá — diz Pinheiro.
A meta é lançar o roteiro a partir de julho. Como o passeio levará um dia inteiro, Pinheiro está definindo pontos de parada para o almoço.
‘Causos’ por trás das montanhas
Nascido em Petrópolis, Pinheiro tem muitos amigos que conhece desde a época em que fazia o jardim de infância. No entanto, o guia de turismo se diz impressionado com a quantidade de conterrâneos que ignoram as belezas verdes da própria cidade. O Campo de Aventuras Paraíso Açu é um verdadeiro oásis de aventuras no meio da Serra dos Órgãos. Com tirolesa e estruturas para escalada, rapel e paintball, o espaço pode ser desfrutado por pessoas de todas as idades e é uma ótima opção de colônia de férias para a meninada.
— Muitas pessoas têm a ideia de que Petrópolis é uma cidade com atividades apenas culturais. Também há histórias escondidas nas montanhas — afirma Pinheiro, entusiasmado.
No Circuito Bonfim, por exemplo, a equipe do GLOBO-Serra conheceu um local que teria sido, décadas atrás, um set de filmagens. Parece história de pescador, mas é do guia turístico. O chamado Poço do Tarzan, que fica a menos de um quilômetro da comunidade conhecida como Bonfim, foi batizado com este nome, afirma Pinheiro, após aparecer nas telas de cinema. Numa primeira olhada, trata-se de uma pequena cascata que deságua num riacho. Mas, garante o fundador da Jeep EcoTour, o lugar não é simplesmente isso.
— Um dos filmes de Tarzan, rodado em 1962, tem cenas gravadas aqui. O protagonista se banhou muito no riacho, por isso ganhou o nome Poço do Tarzan. Vários moradores foram convidados para atuar como figurantes da produção — conta, orgulhoso, Pinheiro.
O passeio prossegue e a natureza volta se se misturar com histórias e “causos” contados ora pelo guia, ora por moradores. Uma construção em ruínas é palco de outra parada. Ali ficava a antiga sede da Fazenda do Bonfim. O guia anuncia: o casarão pertenceu ao rico comendador Franklin Sampaio, que o vendeu ao então presidente Getúlio Vargas.
— Sampaio e Vargas eram muito amigos e costumavam passar férias na fazenda. Aqui chegou a ser construído um jardim zoológico com várias onças e aves exóticas — informa Pinheiro.
Mais à frente, na Capela do Bonfim — construída em 1900 —, um novo personagem rouba a cena. O templo fica sob os cuidados do simpático Alceir Rodrigues, de 77 anos. Ele adora contar “causos” aos visitantes, como a história de uma família que passou a criar porcos e cavalos dentro da construção, o que incomodou a vizinhança. Coube a Rodrigues fazer uma negociação e restaurar a paz na região.
‘Magrelas’ desbravam a região
Se a ideia de caminhar por trilhas não é atrativa, a Montanha Expedições, criada há sete anos, dá uma opção: usar bicicletas para desbravar a região. A empresa começou com um serviço de passeios de jipe, mas se adaptou a um mercado que vem crescendo: o de aventuras sobre duas rodas.
A empresa tem diversos roteiros e prepara a abertura de um centro de preparação de guias especializados em ecoturismo para ciclistas.
— Sou apaixonado pela minha bicicleta. Com ela, eu ganho o mundo. Recentemente, parti de Petrópolis rumo a Visconde de Mauá. Foram cinco dias beirando um rio — gaba-se João Carlos Andrade, um dos donos da empresa.
Como os interessados nos roteiros sobre duas rodas precisam de um bom condicionamento físico, Andrade explica que os futuros aventureiros passam por exames físicos e uma entrevista.
— Adequamos o passeio ao preparo físico do cliente. Fazemos, por exemplo, um pequeno tour dentro de nossa propriedade, a pousada Casa da Montanha, para verificar o fôlego da pessoa — informa o empresário, que tem um professor de Educação Física como sócio.
Andrade diz que a Montanha Expedições não oferece apenas roteiros:
— Treinamos o cliente para que ele possa viajar de bicicleta sozinho ou em grupo.
Onde achar:
Jeep EcoTour
Site: jeep.ecotour.com.br
Tels.: (24) 2223-7239 e (21) 8594-9827
Montanha Expedições
Site: montanhaexpedicoes.com.br
Tels.: (21) 9181-1447 e (24) 9905-7225
Campo de Aventuras Açu Expedições
Site: campodeaventurasparaisoacu.com.br
Tels.: (24) 2336-0003 e (24) 9267-7002
Fonte:oglobo
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